para reflectir.
o diogo fica sempre muito espantado quando falo da morte com naturalidade, muitas vezes rematando as conversas com um ‘vamos todos morrer.’ ou ‘estamos todos’ depois de alguém dizer ‘estou a morrer!’, queixando-se de um esforço físico grande ou de uma constipação mais chata.
mas é mesmo isso que eu sinto, a morte é uma coisa natural, inevitável ninguém tem dúvidas, mas aceitar que vai acontecer, A TODOS, é uma parte do caminho que fica feita e facilita a vida do dia-a-dia.
como diz a doutora na palestra, ninguém está preparado para morrer, ou ninguém quer morrer, óbvio, muito menos hoje, que ainda tenho tanto para fazer e não dá jeito que tenho que fazer sopa. mas ter esta aceitação interior, esta paz que me diz, vais morrer sim, a tua mãe vai morrer, os teus filhos vão morrer, suaviza toda a tristeza, toda a revolta até, que possa existir em torno deste assunto.
claro que toda esta construção e arrumação emocional vem do que aconteceu em maio de 2016. a morte violenta e inesperada do meu pai foi – e ainda é – a maior e mais dolorosa transformação da minha vida. o nascimento dos meus filhos também foi transformador, claro, mas não de uma forma dolorosa e triste, o nascimento dos meus filhos foi uma coisa boa, feliz e alegre, foi uma coisa de vida. não de morte. a morte pode, e no meu entender deve, ter esta capacidade de nos transformar em melhores pessoas, de nos dar a oportunidade de absorver e aceitar a validade e preciosidade que é a vida, de cumprirmos a vida, de vivermos, de estarmos, de sentirmos.
e quando os meus filhos perguntam ‘tu vais morrer?’ ou ‘eu vou morrer?’, eu tenho obrigação de dizer que sim, com calma e naturalidade, para não lhes transferir o medo que temos de morrer, para não os fazer sofrer por antecipação por uma coisa que NINGUÉM sabe quando acontece porque não há hora nem dia marcados no calendário do nosso telefone. vai acontecer, sim, meus queridos, vamos todos morrer mas até lá temos tanto para fazer.